Embora alfacinha puro, tive a sorte de nascer com raízes no Norte do País, dos lados maternos, mais precisamente em Vila Nova de Cerveira, para os lados de Viana do Castelo.
Nessa terra passei parte da minha infância e adolescência, onde as roupas rasgadas, as mãos sujas, os pneus de bicicletas furados, o ir tocar a campainha a perguntar pelo amigo, o ir jogar matraquilhos para o tasco, o ir fazer caminhadas pela serra, para além de serem traição, acho que é parte da diferença entre uma infância de cidade de uma infância do campo (isto em termos populares, claro).
Lembro-me que o melhor das minhas férias de verão, era quando ia para esta maravilhosa terra, onde os cães, galinhas, motos 4, motorizadas, a sirene da padeira, o sino da igreja, os bailaricos, o nascer do sol que vem do outro lado da serra, as idas às piscinas, enchiam os dias de alegria naquela aldeia.
Tinha um vizinho com uma mini-mota e recordo-me o quanto o invejava, porque apesar de ser mais velho do que ele, foi aquilo que eu sempre quis experimentar: andar de mota. Tive de ouvir muitos "nãos" e de ter paciência... parecia que nestas alturas os meus pais queriam-me dar uma "educação à cidade", quando eles viam nos meus olhos que o que queria era cair vezes sem conta até aprender... e de certa forma assim foi, quando do nada o meu pai aparece-me com a minha XF-17 em casa, comprada a um velhote lá da aldeia, que embora andasse, não se encontrava nas melhores condições.
Naquele momento só queria que os meus pais saíssem de casa para poder experimentá-la às escondidas... A única coisa que sabia era que para ligar precisava de uma chave e "dar ao pé". Tanto esperei que, num sábado a família deslocou-se para a feira; Finalmente consegui ficar só eu e ela, a zundapp, em casa.
Corri para a garagem e lá comecei a experimentá-la: cheguei à conclusão que havia um botão que abria e fechava a gasolina, que um "pedal" travava a roda de traz e que "um travão do lado direito" travava a roda da frente e que por consequente, aquilo que ouvia falar, a embraiagem seria o "travão do lado esquerdo". Tinha ouvido falar que "a primeira era para baixo e as outras para cima" e assim, com todas estas conclusões e já com a mota ligada, vim para o terraço com ela e mandei a minha primeira queda devido à velocidade com que larguei a embraiagem eheh
Experimentei largá-la mais devagar, sentia quando a mota pedia uma mudança mais alta e lá me ia safando com algumas quedas pelo meio. A hora do almoço aproximou-se e fui todo "gingão" guardá-la de novo na garagem, tal como o meu pai a tinha deixado.
Após alguns dias, já com a mania que percebia do assunto, mesmo com gente em casa voltei a pegar na mota e andar com ela no meio do quintal. O meu pai disse-me: "isso é para andar devagar" e eu especialista da matéria e lá fui contra uma parede... momentos de adolescente e ainda bem que se sucederam visto que fizeram com que os meus pais me deixassem tirar a carta de mota aos 16 anos: ainda hoje me lembro da Yamaha Virago 125, e de o quanto noite diferença em conduzir uma 125 numa cidade e uma 50 no campo. E assim foi nascendo a paixão... aos poucos, já com carta, comecei a pesquisar mais informações sobre motas, as velocidades que podem atingir, as maluqueiras que se vivem em passeios e concentrações, entre outras situações.
Acho que não nasceu comigo mas que foi uma paixão que foi crescendo com o tempo.
Hoje aos 22 anos já andei muito de mota, tanto no campo, como na cidade, já conduzi 125's, 50's, mini motas, já andei em Harley's e com emprego estável, dentro do possível, decidi gastar alguma parte das minhas poupanças e restaurar aquela mota, onde aprendi a conduzir sozinho, na casa do meu avô.
Nos dias de hoje, não me perguntem como é ser apaixonado por clássicos, porque não sei explicar, é algo que se vai vivendo.
A minha Zundapp XF-17 no Passeio de Motas Antigas de Olho Marinho e Alveite Pequeno, Vila Nova de Poiares, Coimbra (terra paternal). Nesta altura ainda não tinha sido restaurada, apenas tinha levado umas pequenas alterações, no carburador, pneus, e cabos dos travões, entre outros, para que estivesse minimamente estável para andar digamos.
Cumprimentos d'um Lisboeta.